domingo, 9 de novembro de 2008

Carta aberta aos refratários

Caros amigos,

Tendo em vista a grande dificuldade em se consensuar sobre o que seja de fato a sustentabilidade, quer seja por negligência, falta de informação suficiente ou ainda por sofismas arquitetados pela má-fé de muitos, deixem-me dizê-los brevemente o que isto significa – algo que para muito além de ser um simples conceito é na verdade uma filosofia de vida; uma genuína mudança de postura frente ao mundo e ao âmbito interdependente de nossas relações sociais. Cremos, inclusive, que seja mais fácil e didático dizermos o que ela não é, em vez de nos acabarmos em indefinidas correções acerca de todas as acepções distorcidas que até hoje já se lançaram em nossa vital rede comunicativa.

Para sermos meritórios do título a que nos referimos, e portanto, sermos indivíduos-agentes legitimamente sustentáveis, peremptoriamente, devo dizer que:

- Não basta que sejamos exímios teóricos de vanguarda se paralelamente não dispomos de uma práxis que corrobore aquilo tudo que dizemos e defendemos.
- Não basta que trabalhemos numa empresa, num instituto, num qualquer órgão público ou mesmo numa organização não-governamental que respeita e apregoa os valores da sustentabilidade se esta jaz como aberta ao mercado de capitais.
- Não basta que façamos ioga, rezemos, acendamos incenso diariamente e tenhamos total cuidado para com nossa alimentação e saúde, se, na outra ponta, contribuímos para com o consumismo e para com a escandalosa política do desperdício.
- Não basta que façamos caridade religiosamente ou que colaboremos em campanhas de irradicação da fome, das desigualdades e da pobreza, se, por outro lado, almejamos o acúmulo e temos a riqueza como meta de nossas vidas.
- Não basta que tenhamos uma vida simples, ordenada, alimentação frugal e pleno uso da reciclagem como dinâmica de nossas moradias se não compreendemos e vivenciamos o que seja a humildade, a compaixão e a solidariedade.
- Não basta, outrossim, que nos mudemos de cidade ou mesmo de país se não mudamos a nossa precária visão de mundo fragmentada e competitiva.
- Não basta igualmente que reformulemos todas as regras de nossa casa se ainda assim permanecemos como parte integrante do sistema que sustenta e nutre a velha estrutura.
- Não basta, por conseguinte, que nossas profissões e discurso estejam alinhados aos pressupostos da sustentabilidade se não manifestamos uma prática correspondente á nova ordem que desponta.
- Não basta assim que entendamos e realizemos a nossa parte se, em contra-partida, nos mantemos fechados e não agimos na rede para dar a nossa força no contributo da insurgência e transmutação.
- Não basta, enfim, que sejamos meramente humanos para que nos tornemos a própria sustentabilidade-viva. É preciso, pois, que nos transformemos radicalmente como raça e passemos a atuar, em definitivo, dentro dessa nova mentalidade da nova ordem emergente – qual seja, a nova civilização dos Filhos de Gaia.

L. Janz

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