quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Sobre o ensaio – Filosofia da Complexidade

Olá Leonardo.

Agradeço sua participação e seu texto. Podemos iniciar um diálogo, e tentar precisar alguns pontos, verificar em que sentido tu os coloca, no sentido daquela ‘construção’ de pontes de entendimento comum’ que citas no final do teu texto.

Selecionei alguns enunciados teus:

‘a filosofia, por outro lado, se ocupa justamente dos interstícios de todas estas disciplinas aparentemente separadas entre si.’

’...deve-se passar por um árduo e dedicado treinamento mental de comparações epistêmicas, o que lhe garantirá o refino necessário para seu poder de captação e interligações de conceitos na teia dialógica do discurso.’

‘inesperadas alternâncias de rumo’

’A resposta é devido a não-linearidade que todo e qualquer sistema apresenta em suas dinâmicas de interdependência (...) quando nosso autor referência volta para suas ilações ou novas analises, percebe que já existem novas entradas presentes no discurso, que, por força da própria dialética do ser, ou o impelem a seguir nesse fluxo ou então a mudar de direção, adotando portanto uma nova linha que n o contradiga com seu 'edifício' já erigido.’

’A energia de abstração necessária para tais acompanhamentos e idas e vindas é tal, que, normalmente, na metade do caminho a grande maioria já sucumbe, transformando-se assim, infelizmente, como acima já o dissemos, em meros repetidores do discurso alheio sem qualquer contribuição efetiva em relação ao objetivo maior de nossa área; qual seja, trabalhar incansavelmente para o estabelecimento de pontes do entendimento comum’.’

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Percebo que o que te aflige em teu texto são as ‘inesperadas alternâncias de rumo’ dos autores (ou de um autor) numa espécie de inconstância da vida ...a não-linearidade... das dinâmicas de interdependência’, de onde aparentemente surge o que chamamos de conhecimento.

Também tua observação: ‘é como se as redes de pensamentos de nossa cognição global emitissem entradas e mais entradas no sistema comunicativo (universo do discurso).’

Isso a mim evoca uma percepção de tua parte, quanto dinâmica (temporalidade) e contextualidade do conhecimento (a dialética do ser) somados aquela necessidade de coerência, talvez sistematização, formalidade, que diz que os autores procuram ao ‘não contradizer seu 'edifício' já erigido’.

Bem, são observações que tenho também visto e estudado, e ainda esses dias me lembrava de uma velha aula de filosofia, com um antigo professor. Ele disse: ‘Se Heráclito estiver certo, e tudo fluir realmente - como um rio - n o é possível fazer ciência’ (pois as colocações s o passíveis ao tempo, transformação dos contextos, da rede de interdependência que montamos).

Quanto á dificuldade em se cruzar, enfrentar, compreender e dar um veredicto sobre o assunto (conhecimento) concordo contigo e observei algo semelhante no final do apanhado de textos ´Filosofia das Fontes’, publicado em nosso site. A maioria dos estudantes desse pir do que é a filosofia, se estressa com a confusão, da qual todavia já não o é capaz de sair, e aderem a algo, criticam algo outro, e jamais deixam os ‘partidos’ (partes).

A questão é que tudo tem contexto, e intenções, debilidades, sonhos, somados a limites econômicos, sociais e etc; são os pais do conhecimento, dos apontamentos e teses, em minha opinião.

Mas acho que tudo tem saída. E penso que o papel do filósofo é libertar-se, sair dos sistemas de pressão. Por isso também a esperança com a eco-filosofia, a volta velha physis, depois que as pólis caíram na mão dos sofistas.

Tuas observações são importantes, pois cogitam coisas básicas sobre o conhecimento. Acredito que é assim que se formam seres humanos, com cogitações, desconfianças próprias, que nos levam em direção a nós mesmos, ainda que o caminho muitas vezes pareça perigoso e solitário.

Mas tenho que adiantar que as ‘pontes do entendimento comum’, as acho possíveis hoje somente através do ceticismo, do criticismo absoluto do conhecimento, não através das criatividades, das pessoalidades, das teses percebidas e defendidas por um só.

Os apontamentos que fazemos são muito nossos, assim como somos: únicos, para que formem redes eficientes. Nós temos é que enrolar nossa bandeira (de filósofos) e irmos natureza, praticarmos a individuação, ou seja, deixarmos de dividir as coisas. Elas só assim nos parecem por que as dividimos, as classificamos, assim as organizamos. (sobretudo as questões que colocamos)

Portanto, nossa organização se encaminha cada vez mais para o ceticismo. Um ceticismo que tem atrás de si o cansaço de inúmeras tentativas. Ainda que não seja isso, talvez possamos chegar ao que é.

Como vês, estamos mercê de um sistema dual, não linear. A tempo em que evocamos o ceticismo, temos de trabalhar com ‘esperança’, com o tempo, e com a disposição própria de cada um.

Aguardo sua comunicação.

Obrigado e um abraço.
Prof. Cassiano Veronese

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