domingo, 26 de abril de 2009

Da retirada sustentável e a morte do capital



Recentemente ouvimos a seguinte declaração de um especialista em economia. “Se as pessoas consomem menos, as empresas não lucram e não geram emprego, demitem. O Estado diminuei sua arrecadação e corta gastos de investimentos. A condição de todos nas cidades piora e o caos só tende a aumentar como uma bola de neve. É preciso que haja maiores incentivos para o Mercado a fim de que façamos girar a roda da economia.”

Se soubéssemos, realmente, o que vem a ser essa tal roda da economia, e não ficaríamos assim tão felizes com a declaração como ficam o empresariado e os governos como um todo. Vamos aqui expor não só um ensaio, mas, uma tendencia de Mercado em ambito global, que, segundo aconselhamos, de modo algum deve ser entendida unicamente como um fenomeno social-passageiro, porquanto, aqueles que estão nele envolvidos tem plena consciencia de suas implicações também em nível economico.

Sabemos hoje em dia que é cada vez maior o poder de previsibilidade das ciências em geral, isto como bem nos demonstram as grandiosas empresas e campanhas de marketing através da famossíssima ferramenta conhecida por análise de tendencias. Aliás, é essa mesma ferramenta, tão poderosa atualmente, que se faz igualmente utilizada de forma ampla para campanhas políticas, projetos públicos de grande envergadura, para os movimentos da moda, das artes, enfim, da cultura como um todo.

Cremos que essa ferramenta única para analise de macro-cenários tenha surgido principalmente com contribuições da sociologia, do próprio marketing, e, obviamente, da nova física pela lei da “potencialidade probabilistica.” Assim, independentemente do ambito a ser obvervado, quer seja o social quer seja o ambito dos fenomenos naturais, o método que se utiliza é praticamente o mesmo, alterando-se unicamente os dados de entrada, que, neste caso, serão as variáveis.

Dois exemplos bastante elucidativos são os que seguem. Um grande super-mercado de uma rede multinacional decide fazer uma nova pesquisa para verificar como anda o perfil geral do consumidor hodierno, cujo objetivo maior, não seria nem preciso dizer: o de maximizar os lucros da empresa. Então, tomando por referencial seu já extenso banco de dados, ele cruza certas informações do mesmo para a obtenção de respostas (o que é feito via computador, por programas de inteligencia artificial). Dentre as muitas novas tendencias que se manifestam, uma que salta aos olhos aponta para a seguinte situação.

Numa tabela X de consumidores para um produto A, constata-se que, em 82% das vezes que o mesmo compra este referido produto, simultaneamente, ele compra um produto B. No entanto, quanto ao lay-out do supermercado, eles ficam em secções distintas. A estratégia, portanto, é a de se redesenhar determinadas partes do mercado para que ambos os produtos fiquem lado á lado, acrescendo ainda um terceiro produto co-relacionado, de modo que o consumidor não venha a desistir do segundo pela procura, e de quebra, aumente suas chances de levar o terceiro.

O segundo exemplo diz respeito a um Centro de Pesquisas sobre o Clima. Tomando-se um enorme conjunto de dados por amostragem e faixa temporal, um super-computador chega a seguinte respota (o que em informática se conhece por data-mining – garimpagem de dados). Tendo cruzado vários eventos de correntes de ar em deslocamento, concluiu-se que: toda vez que correntes de ar quente e ar frio se entrechocam com magnitude de massa igual a x e y, respectivamente, ciclones acontecem na ordem de 76%. Por conseguinte, se estabelece um novo e importante instrumento de alerta para as populações.

Exemplos como esses existem aos milhares, inclusive no que se refere á análises de cunho social. Dissemos tudo isso até aqui para como que ratificarmos a nossa previsão probabilística em termos de Mercado Global. Ou seja, tomando-se por base movimentos atuais que teem crescido de modo significativo em todo o planeta, podemos daí tirar algumas conclusões antecipadas á médio-prazo, conclusões estas que são verdadeiramente arrebatadoras no que tange a esfera do nosso dia-á-dia nos grandes centros.

Se, portanto, tem havido cada vez mais consciencia sobre a necessidade e urgencia de iniciativas e movimentos sustentáveis, por conseguinte, mais e mais pessoas saem do tradicional sistema economico, cuja dinamica se opera pela exploração de mao-de-obra (pessoas) e de obra-prima (natureza). Em contra-partida, pelo aumento desses movimentos e núcloes de sustentabilidade e suas prátidas renovadoras, á exemplo da economia solidária e mercados de troca, mais e mais se enfraquece o Mercado Global – o poder das Mega Multinacionais bem como do Estado.

Ora, se em minha comunidade nós não fazemos parte do mercado de consumo, geramos nossa própria energia e somos autonomos em produção alimentar, o que sobra de exploração para o Empresariado e para o Poder Público? Em que iremos contribuir para a famigerada e usurpadora Roda da Economia? Não sobra basicamente nada, essa é que é a verdade. Vejamos de modo bastante suscinto como é que isso funciona na prática. Como podemos sair do círculo vicioso para compor e enriquecer o círculo virtuoso do novo milênio.

Nós, como Comunidade Sustentável, pagamos o imposto de nossa terra e só. Temos imposto sobre a nossa aguá? Negativo. Não nos utilizamos do serviço do Estado. Imposto sobre a nossa energia? De jeito nenhum. Temos autosuficiência pela geração de energias renováveis, não-poluentes e não fornecidas pelo Estado. Imposto e usura sobre a nossa comida? Absolutamente. Nós não as compramos em armazéns ou super-mercados. Imposto sobre os nossos produtos e circulação de mercadorias? Também não. Temos o nosso próprio modelo sócio-economico, cuja moeda não é a corrente e cujo objetivo não é o do lucro na cadeia de prosumidores. E é assim que o movimento cresce e se alastra, inapelavelmente.

Isto posto, que sucede se milhões e milhões de pessoas deixam de trabalhar em empresas formais dos grandes centros, indo juntar-se aos referidos núcleos de sustentabilidade para uma vida mais harmonica, de respeito-mútuo, de solidariedade e trabalho não-escravo? O resultado não pode ser outro que não o enfraquecimento, diminuição, atrofia e morte do atual sistema. É isso que tende a acontecer nos anos vindouros, principalmente com o despontar de nossa próxima geração que agora está chegando.

Sem o seu motor-lucro derivado do consumo modista e as empresas não crescem, elas demitem. Com menos receita e o Estado não pode roubar do povo, investe menos nas cidades e então murcha. Com a redução de trabalho nos grandes centros e situações cada vez mais precárias de vida, consequentemente, mais e mais pessoas buscam por comunidades e núcleos alternativos, fortalecendo assim um movimento irrefreável e avassalador. É precisamente disto que estamos falando, num amplo e consciente movimento de alternativa; um movimento de saída para o atual modelo sócio-economico vigente.

Nossa conclusão, portanto, é a de que, estudando-se cada vez mais e mais os aludidos movimentos, suas práticas e seus ritmos de expansão em favor da real sustentabilidade da vida, além de participarmos o quanto mais possível, dentro em breve, poderemos ter uma visão bastante clara quanto ao tempo de sobre-vida ainda restante ao tradicional modelo em operação. A tendencia hodierna da retirada sustentável é inegável, e, além de ser um fenomeno real, ela tem-se mostrado crescentemente como uma necessidade.

Por fim, tendo em vista o aumento dessa tendencia mundial e de todos os seus desdobramentos na esfera cotidiana de nossas vidas particulares, é certo que muitas analises de novos cenários se farão possíveis em relação ao futuro do amanhã. E dentre todas as previsões possíveis e mesmo impossíveis que poderemos colher, uma delas, sem sombra de dúvidas, é também a maior de todas; qual seja: a morte do sistema de capital é somente uma questão de tempo; e como tal, é algo inevitável.


L. Janz – 26/04/09

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